domingo, 23 de outubro de 2016

B.W ACROSS | Cap.1 - E tudo começa a cair


Arco da história B.W Across
Isto é um post dependente, e é apenas uma das partes que compõe a história.
Para saber mais a respeito clique na guia com o nome da mesma.
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E tudo começa a cair

       Já era tarde, por volta das treze horas, quando as sirenes se tornaram mais insuportáveis do que nunca. O trânsito que já era uma bela piada em dias comuns estava tremendamente péssimo, sim, não era um dia comum. As escolas estavam liberando os estudantes mais cedo, devido à um tipo de gripe que estava circulando pela cidade e os posto de saúdes estavam lotados. Sem mencionar outros serviços públicos que estavam paralisados ou esgotados.

        Alguns meses atrás circulou a notícia de vários ataques químicos entre países em guerra, e acabou sendo abafado. A mídia está tentando esconder o que está ocorrendo, mas por meio de terceiros chegou a notícia de que a cidade está em estado de emergência. Coisas estranhas estão acontecendo de duas semanas pra cá, e é um fato que as pessoas temem o que não entendem, não vou mentir que estou com receio e com uma imensa dúvida quanto a isso.

       Eu estava saindo do colégio, já que não teria aula, e seguindo rumo a minha casa. Esperei pelo o ônibus vários minutos, talvez tenha sido até uma hora, mesmo não fazendo a mínima ideia que hora o ônibus passava -pois só saia da escola ás dezesseis horas-, era estranho ter demorado tanto tempo, nem mesmo em dias de "trânsito pesado" se atrasa tanto. Passou-se alguns momentos e, finalmente, o ônibus tinha chegado, estava quase totalmente vazio, algo incomum para aquele horário em que estávamos.
       O ônibus está parado há quase dez minutos, estou enlouquecendo, odeio esperar. Minha casa fica a vinte minutos de onde estou, acabei levando em consideração que se eu estivesse por conta própria eu já teria ultrapassado 1/3 do trajeto. Resolvi tentar a sorte e confiar nos meus pés, desci do veículo. Minha cabeça já está explodindo com o barulho das buzinas e dos alarmes dos carros, tem até helicópteros sobrevoando a cidade - outro ponto curioso, já que não é típico de sobrevoarem esta região-, passaram cinco só nos últimos quinze minutos. Está uma verdadeira confusão.
       Segui sem mais preocupações, tentando esquecer do mundo por um momento, por sorte tinha pego meus fones de ouvido e deixado na mochila, mas agora estavam em meus ouvidos tocando uma obra-prima que se chama The Who. Pelo caminho vi várias pessoas desesperadas (ou pelo menos pareciam), estavam correndo pro lado contrário de onde eu seguia, quando uma ambulância surgiu em na minha frente e passou com tanta velocidade próximo a mim que meu coração veio parar na boca. Era o ponto auge da minha raiva, é realmente muito confuso presenciar momentos como esse e simplesmente estar desligado de tudo. Notei que a falta da informação na vida das pessoas causa um tumulto. Devido a isso acabei por ver que o meu celular estava sem sinal, sendo que é meio improvável, pois eu moro em uma região perto à uma antena de transmissão. Queria chegar o mais rápido possível, então saí correndo.
   
       Estou perto de casa, finalmente. A rodovia que fica ao norte está toda congestionada, se minha visão não me engana, eu avistei uns carros capotados. Estava agora com pesar, e um tanto preocupado. Parece mais um sonho, quero dizer, pesadelo. Era tantas coisas ocorrendo que achei que fosse coincidência, tolo eu de acreditar nisso.Vi alguns mendigos bêbados, porém arrumados, eles estavam todos desengonçados - fique pensando se era eles que estavam dirigindo os carros capotados. Ri um pouco. Os pontos não batiam. Mais alguns passos e tinha chegado ao meu destino, depois de um árduo trajeto.

       Meus pais não estavam. E não fazia a mínima ideia de onde eles poderiam estar, mas nunca estou em casa durante esses horários, então a dúvida foi mais amena, mesmo assim, não deixei de permanecer preocupado. Os telefones estavam fora de área, eu não ia sair por aí em busca deles. O que mais o que eu poderia fazer?
       Fui para o banho limpar a alma, depois de tudo isso eu só queria descansar, descansar limpo. Percebi pequenas quedas de energia enquanto me banhava. Tentei me acalmar, poderia ser tudo passageiro, todos estes eventos poderiam ser apenas o que eu já havia pensado: coincidência. Tinha de ser.
       Deitei em minha cama e os pensamentos vieram a tona em minha mente. O clima está insuportável e nem vou mencionar a poluição sonora. Sem sucesso em conseguir organizar minha cabeça, fui navegar na internet, em busca de respostas. Vi muitas notícias da própria cidade e do mundo inteiro, estava acontecendo vários eventos aleatórios por todo lugar: incêndio, congestionamento, falta de água e comida, sem sinais para celulares, falta de energia. Algumas notícias de redes sociais que caíram,e simplesmente não dava para acessar. Se parte dessas coisas tinham acontecido aqui, talvez tudo isso ainda poderia piorar, e o caos seria eminente. Outras cidades e países anunciaram também que estavam em estado de emergência. Se isso não era só aqui, algo muito grande ainda vai acontecer. Para concluir a internet estava caindo a todo momento, tava pior do que nunca. Permaneci mexendo até que perdeu o seu sinal de vez. Fui para o quarto e liguei o som bem alto, precisava deixar a mente ocupada, não havia mais nada pra fazer.

       Depois de um longo tempo meus pais chegaram, já era noite. Então fui vê-los. Estavam preocupados (mais do que eu, por sinal), e contentes por estar todos em casa. Somos uma família simples, com poucos integrantes. Era só eles, eu e minha irmã - que estava fazendo intercâmbio fora, sorte dela. Minha mãe era mulher bem bonita, ainda mais para sua idade, tinha cabelos loiros, olhos castanhos claros e uma altura próximo a 1,60. Sempre amistosa de tudo, e muito esperta.
       Já meu pai era um tanto extrovertido, porém entendiante, ele é bastante sábio apesar de tudo. Com seus cabelos negros e curtos tem uma postura robusta, e olhar fechado com olhos marrons. Seu nome é John.
Então Lauren - minha mãe - falou rapidamente:
       - Tentei te ligar várias vezes, mas o telefone está sem sinal, estava muito preocupada, imaginei o pior. Passamos na sua escola e estava tudo fechado. Mas ainda imaginávamos que você estava aqui.
       - Sim, está uma bagunça, a cidade toda! - mencionei e em seguida perguntei -, o que tá acontecendo?
       - Querem colocar a cidade em estado de cerco, pelo que ouvi, um tipo de doença tá circulando -  disse John.
       - Disseram que era uma espécie de gripe, mas tomou proporções extremas - terminou por falar Lauren.

       Tínhamos acabado de comer e ligamos a televisão (que estava funcionando). No noticiário acabaram por revelar tudo - ou quase-, se contaram o ocorrido, provavelmente não há mais nada a ser feito. A cidade tinha virado um caos, e afirmaram que ninguém sabia ao certo qual o motivo disso tudo. Meus pais, visando a segurança, entraram em uma imensa discussão do que fazer a seguir, sair daqui antes de tudo piorar ou permanecer e lutar contra o pior? Eu falei que o melhor era permanecer, as chances de acabar ocorrendo algo, em um local onde não se sabe nada, são piores do que ficar em sua casa e se defender. mas acabaram por me ignorar, nunca me levam em consideração. De qualquer formar não tínhamos dinheiro para sair daqui. Deduzi que permaneceríamos.
       E o barulho nunca cessava, pelo contrário, aumentava. Agora havia barulhos de tiros e estouros. A situação estava entrando em patamares desconhecidos. A tensão só piorava, ainda mais com meus pais em uma briga interminável sobre como prosseguir. Acabei cedendo ao sono e adormeci.
       A noite passou rápido mesmo com tudo que tinha acontecido.
       Era madrugada quando meu pai entrou rapidamente em meu quarto e gritou para que eu acordasse e aprontasse minhas coisas, por sorte não tinha muito o que ser arrumado e já estava tudo mais ou menos organizado - eu já havia imaginado esta ocasião. Coloquei em minha mochila apenas algumas trocas de roupa, coisas pessoais, outros utensílios, identificação e uma quantia de dinheiro que havia juntado há um tempo. Fui na cozinha próximo a um armário, tinha uma faca escondida lá, era grande, mas eu daria conta de usar. Eu só queria me defender. Não deixei de pegar vários remédios, pois já havia lido e visto coisas a respeito de um "apocalipse", poderia estar ficando louco, mas sempre gosto de me prevenir. Fiquei pensando se tudo isso era mesmo necessário, e sim, era. Peguei algumas garrafas com água, e alguns salgadinhos também. Já estava quase tudo arrumado.
       Vi meu pai pegando um revólver, comecei a me perguntar onde diabos ele arrumou aquilo. Lauren, como todas as outras mãe, tentava se prevenir, e encheu uma bolsa com várias coisas, é inimaginável saber o que ela colocou dentro. Deduzi que não voltaríamos pra cá, pelo menos, não tão cedo, já que havia muitas malas. Nosso destino era a cidade vizinha, com esperanças de não estar tão alarmado quanto aqui. Sem muita demora pegamos o carro e saímos, a viagem não era tão longa (menos de uma hora).

       Foi bem dificultoso sair da cidade, mesmo durante esse horário, mais pessoas pensaram o mesmo e decidiram fugir. Estavam colocando a cidade em quarentena,e provavelmente, amanhã seria quase impossível de sair daqui. E conseguimos sair, uma das desvantagens de morar em capital é isso, são os primeiros a se fe... seguir em frente. Ir para uma cidade menor foi uma ideia interessante e esperto, talvez tenha sido um erro falar que devíamos permanecer em casa. Mesmo fazendo divisa com a capital (o local para qual seguíamos) era uma cidade pouco desenvolvida. De qualquer forma continuamos.

       Pela manhã estávamos na casa de parentes que foram generosos em nos aceitar lá, estavam todos cansados da viagem que durou mais do que o previsto, devido ao trânsito caótico. Depois de desfazer as malas e conseguir um quarto, fui direito para cama e finalmente podia dormir. Acordei algumas horas mais tarde, era quase hora do almoço. Fazia um dia que estava esperando um ônibus, é incrível como as coisas pode mudar num piscar de olhos.
       Estava muito barulhento para aquela cidade, mas era bem mínimo comparado à capital. Pelo menos isso. Todos me esperaram para comer, foi o que fizemos, estava faminto depois de tudo. Pelo rádio - já que o sinal da televisão havia caído-, começaram a falar sobre uma possível epidemia que estava se espalhando e deixando os portadores agressivos e raivosos. Porém o que não falaram, que pelo menos muitos já haviam mencionado, era que isso não era só em uma região, estava em um nível mundial. E seria uma pandemia.
     
       A casa de meus tios não era tão grande, mas era muito confortável. Eles não tinha filhos e mesmo assim eram um casal feliz. Mike e Clara.
       Mike era um vendedor que trabalhava no centro, um cara engraçado e divertido, sempre animado com a vida, ele tem no mínimo uns 1.85 de altura, seus cabelos também são enormes, juntamente com sua barba. Já Clara era uma mulher mais quieta - seu humor - e mais animada que o marido, todos notam isso. Trabalha como enfermeira num hospital próximo. Ela tem bonitos cabelos castanhos, são lisos e brilhosos. Por ser parente de minha mãe ela não é muito grande, beira seus 1.65. São pessoas novas e encantadoras.

       Meus pais se sujeitaram a ir na feira comprar comida, já que iríamos passar um tempo por aqui. Eu fui junto. Compramos várias verduras e frutas, a comida hoje era por minha conta. Que sorte a deles.
       Não demoramos muito e nem saímos sozinhos por medo de algo acontecer algo estranho, e por mencionar isso, quando estávamos voltando avistamos uma briga na nossa frente, mas aquilo não se parecia como tal: um dos rapazes estava mordendo o outro, e estava rasgando pedaços do pobre homem. Quando chega um policial,ele se aproximou com a arma sacada e gritou para que o indivíduo se levantasse e saísse de perto do outro cara. Infelizmente ele não o fez e recebeu alguns tiros nas pernas e braços, mas não houve uma resposta, e o tira revidou com outro pente de balas em seu tronco, novamente nada acontecia. O rapaz debaixo parecia já estar morto com a garganta toda dilacerada. Por fim o agressor se levantou e seus olhos estavam todos de uma cor estranha e diferentes, não olhei muito, mas qualquer um percebia isso, até mesmo houve murmúrios a respeito. Ao mesmo tempo o corpo do sujeito caía duro no chão com uma bala em seu crânio. O policial não exitou.
       Isso fez um alarme e tanto naquela feira, foram várias fotos e vídeos, também muitos gritos, pessoas ficaram horrorizadas com o que acabavam de ver. E deviam.

       Era essa a gripe que mencionaram? Se fosse, eu não queria nem pensar em pegar. Não vou mentir, foi uma cena chocante, mas não liguei muito. Dois homens acabavam de morrer da pior maneira possível, e eu simplesmente aceitei isso numa boa. Que seja.

       Seguimos para casa e passamos o resto do dia ali, trancados. Meus tios estavam chocados com a notícia, mesmo que duvidassem um pouco era algo bem aterrorizante de se ouvir. Ficamos conversando até na hora que resolveram "ficar'' com fome e me mandarem para cozinha. Fui de bom grado. Estava sozinho no ambiente e comecei a rever tudo em minha mente, tinha muitas coisas acontecendo e eram tão esquisitas. Larguei tudo pra trás: minha casa, a escola, meus amigos; parecia tão surreal, e simplesmente não tinha como dizer nada pra ninguém, não havia sinal de celulares ou telefones, sem falar da energia que também estava instável. Não tinha mais como se comunicar. Meus tios eram legais, pessoas boas, mas eu preferia estar em casa. Não há nada que se compare com a sensação. O que eu devia fazer?
       Se essa cidade não era igual a capital estava se tornando semelhante, o barulho só aumentava, e eu estava tentando compreender tudo. Isso era mesmo o fim do mundo, porém era só começo dele.

       Começaram a bater no portão da casa, batiam com tanta força que eu fique impressionado que não tinham derrubado-o. Todos foram ver o que era. Não esperávamos ninguém, então ficamos assustados. Mike abriu o portão, e alguém semelhante ao homem da praça - o com olhos estranhos - entrou, olhamos para ele por alguns instantes, até que ele se aproximou e mordeu o braço do meu tio, deve ter sido uma mordida dolorosa, pois ele gritou muito. Fiquei com os olhos esbugalhados pela cena. Em sua primeira reação, meu pai se aproximou com uma barra de ferro (onde ele consegue essas coisas?) e acertou o rapaz na cabeça. Tirando alguns barulhos e gemidos que o sujeito fazia, ele apenas caiu no chão sem ter gritado. Não havia nenhuma alma naquele corpo. Ou pelo menos deduzi.
       Entraram mais duas pessoas, estavam no mesmo estado do cadáver no chão. Pareciam mortos. Me aproximei de John e falei que eles estavam doentes e não eram mais donos de suas ações. Então falei abertamente: "Devemos tirar eles da casa, sem deixar que nos toquem. pois pode ser a forma de como eles propagam essa doença." Todos me olharam com dúvida, como se eu estivesse maluco. Meu pai e minha mãe tinham visto, algo semelhante, com os próprios olhos na feira e sabiam que tinha chance de ser verdade. Destas pessoas não estarem conscientes mais. E ao mesmo tempo, enquanto os doentes se aproximavam, levaram uma cadeirada na cabeça - essa veio da minha tia. Isso só fez com que eles caíssem no chão, mas logo levaram a barra de ferro na cabeça também. E o portão foi fechado.

       Estava num estado de confusão total. Acho que não só eu, todos nós. Foi o nosso auge para acreditar que o mundo tinha entrado em uma contagem para tudo acabar. Um verdadeiro colapso. Mas agora não era hora para se discutir isso. Meu tio estava sangrando muito. Clara, com sua habilidades de enfermagem, conseguiu estancar o sangramento e foi feito um curativo no braço de Mike.  Ninguém sugeriu um hospital, por saber da merda que poderia causar, e também por ter alguém experiente em casa. Já bastava esses acontecimentos de hoje. Infelizmente ele estava bastante quente, febre, provavelmente. E estava todo confuso, não conseguia organizar os pensamentos. Conversamos com ele a noite toda e ele estava cansado e mudando sua aparência, teria ele pegado a mesma "doença", e se sim, que porcaria era essa. Fazer um cara desse tamanho ficar todo pálido e fraco em poucas horas é algo, realmente, preocupante. Ele então foi dormir.
E todos fizemos o mesmo, era disso que precisávamos.

       Mais tarde, totalizando doze horas e uns quebrados depois do episódio com o portão, acordei aos gritos de Clara. Era umas nove da manhã. Segui para ver o que estava acontecendo, minha tia mexia em Mike, mas ele estava todo leve e resmungava. Nem tinha notado a presença de meus pais ali. Fui perceber só em seguida, estava totalmente desacreditado. Eu tinha realmente acordado ou seria tudo um outro pesadelo. O que iríamos fazer?
       Passou mais algum tempo, eu já tinha tomado um café e acordado para vida - infelizmente aquilo tudo não era um sonho. Todos estavam no quarto olhando pra ele. Clara estava chorando muito, não tinha muito a ser feito ali, não por ela, e nem por ninguém mais. De repente Mike abriu seus olhos, e infelizmente, era o que não queríamos aceitar, estavam diferentes, iguais dos enfermos que vimos. Era uma péssima coisa para se presenciar, um parente morto voltando a vida. Com isso sabíamos o que tinha de ser feito.

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